sábado, 6 de fevereiro de 2016

A raposa satisfeita



Fome envolve a raposa e, a sua frente, há uma videira não carregada, mas com um cacho vistoso demais para ser ignorado. Além disso, não há concorrência ao redor, seria fácil apanhá-lo. É preciso fazê-lo já, porque a qualquer momento pode aparecer outro animal que atrapalhe os planos.

Salta em direção ao galho mais próximo, mas não consegue agarrá-lo e cai. Repete o movimento algumas vezes, todas iguais. Perseverante, consegue alcançar um patamar razoável. Toma ânimo para galgar um degrau acima. Pula, cai e sua pata direita traseira começa a pingar vermelho.

Machucada, reconta o que acabou de acontecer para si. Passou por ali ainda satisfeita com a refeição anterior que fizera quando, por gula, sentiu-se atraída por aquele cacho de uvas. A fruta quase lhe passou despercebida. Transitavam por ali outros animais e sequer a notaram. Num átimo de estupidez, considerou problema algum guardar aqueles gomos para mais tarde. Tentou alguma vez e não conseguiu alcançá-los. Num esforço derradeiro, não mais que o terceiro, por azar, machucou-se de leve.

Satisfeita e mancando, a raposa seguiu seu caminho.

Um comentário:

Augusto Lima disse...

Parece que satisfação também machuca... Ótima redescrição!