sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Fica na tua, velho!



Desculpa perturbar viagem silenciosa. Humildade.

Trago utilidade, benfeitoria, solução pra dia-a-dia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

No mesmo lugar de antes



Saio para comprar o caldo do feijão: beterraba, cebola e alho. A bicicleta está murcha; a bomba de ar, com bronquite. Vou-me a pé. Faz um sol de janeiro na Baixada. Um sol de janeiro que se compara ao sol de janeiro da Linha do Equador que me pariu. Vou-me a pé. Já alcanço a ciclovia com os olhos. Estou prestes a atravessar a rua, quando vejo sob a ponte por cima do trilho do trem uma pilha de caixas de madeira, sacolas de plástico e retalhos de roupa. Torço para que seja o lar de algum mendigo, caso contrário lanço maldições ancestrais ao indivíduo responsável e a todos os seus óvulos ou espermatozoides -- melhor, amaldiçoo seu cromossomo 21 e está tudo resolvido. Atravesso e já alcanço a ciclovia com os pés. Vou-me a pé. Passam bicicletas por mim. Aquelas ali sustentam um casal: ele alto e negro, ela alta e negra. Distanciando-se de mim, assim no horizonte desta pista estreita, não distingo quem é um e quem é dois, e não importa. São entidades que passam por mim.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Uma estória lúgubre de saudade e amor



Li a “viúva na praia” de Rubem Braga e me pus a fazer uma experiência de pensamento inevitável -- e se a viúva fosse minha? A viúva de Braga está na praia, esquina de sua casa, com um filho ainda criança a tomar banho de sal e sol. Jovem, com seu maiô preto, olhos claros, boca e dentes imperfeitos e belos, vinte e poucos anos. E se o morto da viúva fosse eu? E se a viúva fosse minha Evelyn? Estando ela em Cabo Frio, estando eu em Seropédica, coisas assim preenchem o buraco no peito que sua ausência física cava neste terreno de carne e sangue.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Listas



Pergunte-me sobre uma lista de coisas para alcançar o seu objetivo, e eu te direi quem és. Brinquemos de dividir a humanidade em dois: aqueles que precisam de listas e aqueles que não precisam.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Barra



Você entra no ônibus já ciente de que, pela frente, terá de enfrentar um engarrafamento. Está numa cidade para onde todos os turistas vão no final do ano e tem que voltar, depois do réveillon, para trabalhar na segunda-feira. É começo de janeiro, e calhou do dia dois cair num sábado, ou seja, nem houve ontem, nem amanhã haverá transporte para a capital. Resultado: todos, mas todos mesmo resolvem sair no mesmo dia para voltar para casa. Você é todos.