domingo, 20 de março de 2016

A história se repete como paráfrase



Relativista! Conformista! Cético! Essas palavras viraram sinônimas, no inflamado debate público nacional. Um pouco de conhecimento filosófico, no entanto, ajuda a compreender que não remetem ao mesmo sentido. A última designação, ao contrário de uma condição quase anti-patriótica, como pode pensar alguém mais engajado, pode se referir a uma atitude mais racional que expelir interjeições mal justificadas. Ceticismo, antes de tudo, relaciona-se à investigação (sképsis) e, para refinar seu entendimento, algumas distinções são necessárias.

Primeira distinção: ser cético não quer dizer ficar em cima do muro. Quer dizer investigar, antes de saber que lugar tomar em relação ao muro, deste, daquele ou em cima. Portanto, não é dizer "Tanto este, quanto aquele lado são iguais do ponto de vista deste muro, em que me localizo", nem quer dizer que "Nada farei, em relação aos lados, porque, de cima do muro, nada me afeta". O cético suspende o juízo, logo não toma lado (seja esquerda, direita, acima ou abaixo). O cético age, porque investiga, logo não se conforma. Retomarei essa diferenciação no final.

Uma segunda distinção é ainda necessária. Isso porque, do ponto de vista histórico e conceitual, há, ao menos, dois céticos possíveis. Refiro-me aos acadêmicos e aos pirrônicos.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Cacos



Do quarto, ouço um estampido de película rompida. Ando até a cozinha e tento montar mentalmente o que aconteceu. Chapinho o piso molhado e escuro, escorrego e, antes de cair, consigo me agarrar ao armário, que me corta a palma da mão auxiliado por um caco de silício.

domingo, 13 de março de 2016

Frida Kahlo: a diferença entre selfie e autoretrato



Seguro a mão de Evelyn, e nossas retinas refletem a mesma imagem: um dos autorretratos de Frida Kahlo. Estamos na exposição “Conexões entre mulheres surrealistas do México”, na Caixa Cultural, centro do Rio de Janeiro. É domingo e, ao nosso lado, tira foto do quadro (imagem da imagem) uma dona classe mediosa, já adiantada em anos, que deveria estar em casa esperando o programa do Faustão iniciar. Apesar de utilizar uma câmera de qualidade, de nada adianta seu esforço, porque nitidamente não enxerga o que está a sua frente, apenas busca pelo salão aqueles tecidos cobertos de tinta óleo que brilham mais, para capturá-los e levá-los, na memória da máquina, para serem apreciados através da tela de um computador por seja lá quem for.