domingo, 13 de março de 2016

Frida Kahlo: a diferença entre selfie e autoretrato



Seguro a mão de Evelyn, e nossas retinas refletem a mesma imagem: um dos autorretratos de Frida Kahlo. Estamos na exposição “Conexões entre mulheres surrealistas do México”, na Caixa Cultural, centro do Rio de Janeiro. É domingo e, ao nosso lado, tira foto do quadro (imagem da imagem) uma dona classe mediosa, já adiantada em anos, que deveria estar em casa esperando o programa do Faustão iniciar. Apesar de utilizar uma câmera de qualidade, de nada adianta seu esforço, porque nitidamente não enxerga o que está a sua frente, apenas busca pelo salão aqueles tecidos cobertos de tinta óleo que brilham mais, para capturá-los e levá-los, na memória da máquina, para serem apreciados através da tela de um computador por seja lá quem for.

Frida pintou autorretratos e é conhecida por isso. Atrás de nós, vários casais e outros solteiros tiram selfies com a artista no fundo. Uma pintura da artista tendo como objeto sua própria subjetividade, no entanto, pouco se aproxima do retrato automático sacado a cada instante por aquelas mãos nervosas. O que é invariável em Frida é o rosto, sim, sempre um tanto virado para o lado, mirando o canto inferior de quem a pinta (ela mesma), raramente de modo direto. Sua monocelha peculiar, seu olhar carregado de dor, sua testa mais curta que nas fotos mais realistas disponíveis, todos são elementos recorrentes que compõem sua assinatura.

O rosto é sempre o mesmo. O que menos importa, porém, em seus quadros é esse elemento, ao contrário do que acontece nas selfies que se proliferam por ali cada vez mais. Em seus autorretratos, o que se sobressaem são os adereços que orbitam ao redor de sua face carregada: um colar, um brinco, um penteado de tranças característico, uma vestimenta colorida e texturizada.

Não é que seja abstrato o intuito de Frida. Muitos de seus quadros são explícitos, com simbologias nada herméticas. Um de seus autorretratos é, por exemplo, Diego Rivera, seu grande amor, ocupando grande parte de sua testa. Maneira nada sutil de dizer o que ocupa seus pensamentos. Em outro, seu corpo nu é desenhado ao lado de um feto, indicação clara ao aborto (um dos) por ela sofrido.

Nada disso, é uma pena, interessa às pessoas que ali estão. Evelyn e eu, percorremos todas as galerias -- demoramos cerca de duas horas para tanto -- e, a certa altura, deparamo-nos com um senhor. De frente ao quadro, futuca seu celular, dardejando aquela tecla dura e fria como se dali fosse possível extrair algum prazer. É um dos quadros de “natureza viva” de Frida. Dez minutos passamos em frente à pintura. Dez minutos passa ele manuseando o móbile. Saímos, e o senhor, dando-se conta de que está só, também sai resmungando qualquer coisa como Nossa, é muito detalhe, né?, impressionante essa pintura, prende a atenção da gente. Após isso, volta e saca uma foto do celular. É pra guardar na memória, diz. E ninguém, nem ele próprio, principalmente ele próprio, escuta o que diz.


2 comentários:

Anônimo disse...

Nooooooooooooooooossa! Estou aplaudindo!
Que casal especial! A exposição deveria ter sido aberta só para vocês.
Sério... sério?
Vocês acham que são os únicos a terem ido à exposição dispostos a ver a obra da artista?
Dois matutos que se acham grandes intelectuais. Ainda estão usando fraldas, não sabem de nada.
Caiam na real! Nunca vi um ego tão inflado como o seu.
------- Que absurdo uma senhora de classe média se achar no direito de ver as pinturas da Frida Kahlo. Aviso para a classe média e alta: mantenham-se longe da arte! Qualquer pessoa portadora de um belo saldo bancário e que mora em um prédio bem localizado está proibida de entrar no local.------- Que pensamento bosta o seu. Típico de pobre ressentido.
Continue postando merda. Seus amigos de curso adoram rir de você. Ah, os professores se amarram também.
Será que o Bilate já teve a honra de ler o texto escroto que você escreveu inspirado por eele? É tão covarde que preferiu não citar nomes. Sinto lhe informar, todo mundo que leu sabe que você estava falando dele.
Fica tranquilo que vou garantir que nosso querido mestre leia o seu texto.
Uma criatura tão genial como você não deveria estar perdendo tempo na graduação. Você deveria ter saído do maternal direto para o pós doutorado.
Pedantezinho de merda.

Anônimo disse...

Falou o desesperado por bolsinha do governo.