segunda-feira, 9 de maio de 2016

Um corrupto pode ser educado



O cidadão comum de nosso país dificilmente se envolverá em corrupção. Não porque seja um modelo de conduta, mas porque não é qualquer ato mal educado que é antiético, tampouco corrupto. É preciso fazer algumas distinções conceituais para não se cometer o erro de tomar um pelo outro e, com isso, naturalizar práticas que precisam ser combatidas.

Atribui-se a Luis Fernando Veríssimo a frase “Brasil, estranho país de corruptos sem corruptores”. Adoramos indicar erros alheios sem reconhecer os próprios. Isso, porém, não nos torna iguais a criminosos. Corrupção é crime, o que significa dizer que está tipificada no Código Penal (art. 117 e art. 133). Não deve ser confundida, portanto, com faltas menores como furar a fila do pão ou trair o cônjuge. Estas precisam ser evitadas. Aquelas, além disso, exigem reclusão e multa a quem as comete.

Ainda que não precisemos confundi-las, é preciso corrigir faltas de toda ordem. Não é por que minha conduta não é criminosa que não mereço ser admoestado por ela. Atos contra os valores que julgamos dignos de serem preservados devem ser socialmente coibidos. Não queremos conviver com criminosos e também não queremos conviver com antiéticos.

O que não pode acontecer, entretanto, é que queiramos extirpar toda e qualquer falta da conduta humana. Má educação existiu, existe e sempre existirá. E, aqui, cabe outra distinção: ser mal educado não é ser antiético. O curto alcance de uma “furada de fila” não se confunde com o largo escopo da traição de um relacionamento. Essa confusão é a base para que conectemos a falta de educação nossa de cada dia com a corrupção de nossos representantes. Uma não se segue da outra.

Com essas distinções em mãos, o mínimo que podemos fazer é evitar o moralismo, isto é, condenar alguém até mesmo pela mais ínfima falta comportamental. Nós brasileiros podemos até ser mal educados. Isso, porém, não faz do “brasileiro” um tipo naturalmente corrupto, tampouco explica toda e qualquer corrupção. Quem pensa assim se surpreenderia ao descobrir que os maiores criminosos em relação ao dinheiro público são incapazes de cometer uma falta à mesa ou sentar no lugar reservado para idosos no metrô.

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