sábado, 14 de maio de 2016

"Porque é 2015!"



De todas as posições contrárias às reclamações sobre o ministério todo masculino e todo branco de Temer, a mais não razoável é a de que esses cargos não precisam ser representativos como deve ser o Congresso.

Ministérios federais -- como QUALQUER cargo político -- representam símbolos de como o governo atual quer ser visto, nacional e internacionalmente. Isso é o básico da política de todos os tempos. É assim que o mais humilde de nossos conterrâneos vota: no símbolo que considera que melhor o representaria (excluindo os casos em que vende seu voto, claro; isso, porém, não é privilégio do mais humilde de nossos conterrâneos).

Negar esse fato é também não ter capturado o espírito de nosso tempo. Espírito esse traduzido na justificativa lacônica e brilhante do atual primeiro ministro do Canadá, Trudeau, quando inquirido sobre o porquê de ter escolhido, para seus ministros, representantes de todos os setores de sua nação: "Porque é 2015". Sua justificativa foi óbvia. Ainda assim, pode não parecer tão clara e distinta a alguém que ignora em que tempo vive.

Alguém assim pode ignorar uma série de fatores mundiais. Não pode, entretanto, desconhecer dois eventos recentes nacionais. Primeiro, que tivemos, na presidência do Brasil, um operário, seguido de uma mulher -- fatos inéditos na história brasileira. Segundo, que um dos principais atores jurídicos e políticos dos últimos anos, Joaquim Barbosa, que chegou à presidência do STF, o cume do sistema judiciário pátrio, é negro. Com quem ignora o peso disso, cabe conversa.

Aos de má-fé, em oposição, não basta explicar o caráter simbólico de qualquer cargo político, tampouco a ascendente de representatividade nos governos do Brasil e do mundo. Esses, resta ignorá-los ou ridicularizá-los. Não sei se fui bem sucedido na segunda opção.

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