domingo, 25 de setembro de 2011

Mina quer atenção




Mina quer se comunicar e não consegue. Deita-se ora ao lado dele, ora à frente dele, ora sob ele. Faz de tudo para que, em virtude da posição em que se coloca, ele a entenda. Não quer, em absoluto, exigir algo. Só deseja, sutilmente, fazer com que ele a compreenda. Uma tal arrogância pouco amistosa não é de sua natureza. Mina é mais amiga que um companheiro de infância.

Ela, percebendo que a tática não dera certo, levantou-se. Andou por ali, fitou a porta, olhou para ele, para porta, para ele. E ele nada – nenhuma olhadela só. Mina deitou-se.

Uma coceira oportuna e favorecedora da reflexão deu-lhe no couro cabeludo, no que ela cossou, cogitando um possível próximo passo para se fazer entender. Concebeu um ardil – levantaria, andaria mais um pouco e fingiria uma pequena queda. Isso, certamente, o tiraria do marasmo. Uma queda, afinal, sempre chama alguém à atenção. Isto – não tentaria mais construir; destruiria, quedaria a si mesma.

Já no intuito de por em prática seu plano, levantou-se, foi até um um canto e, tal uma atriz convincente, pôs-se a mirar algo bastante interessante que só ela via, de modo a deixar qualquer plateia apreensiva para descobrir o objeto de tamanha admiração. Mas ele nunca houvera ido ao teatro. Não sabia apreciar um fingimento verdadeiro; só conseguia apreciar o que fosse bem evidente – era do tipo que preferia pornô a erotismo, ação à drama, qualquer vinho a vinho seco do mediterrâneo. De uns tempos para cá, Mina só fazia uso de algo se já tivesse inalado, tocado, visualizado – e até ouvido em alguns casos – com muita cautela. Ela não faria uso de estardalhaço para despertá-lo. Voltou ao lugar de antes.

A situação, de tal modo não saia daquilo, que chegou a um ponto que ou algo teria que ser feito ou algo drástico aconteceria ali mesmo. Ela, saindo debaixo da cadeira, onde ate então se encontrava, dirigiu-se a ele, deu um impulso com as duas patas dianteiras, de modo a por-se ereta e pousou-lhe as mesmas patas nas coxas – no que só assim, um desinteressante olhar conseguiu se esboçar. Ela, aproveitando-se daquela migalha de atenção, fez novo uso da antiga tática – mirou a porta, após voltou-se para ele e assim sucessivamente. Ele, enfim tocado, levantou-se, dirigiu-se à porta, rodou a maçaneta e a empurrou. Uma luz que há muito não visitava aquele recinto entrou tão receosa quanto Mina estava ainda pouco. Ela visualizou aquela passagem aberta, voltou-se para ele novamente a fim de agradecê-lo, mas ele não mais a fitava. Ela, então, educadamente, passo após passo, saiu. E foi fazer o que tinha que ser feito.

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