sexta-feira, 13 de maio de 2011

Professora sem coluna


 
Sentada à mesa, sob a indiferença de trinta seres humanos sentados a sua frente, a professora lê, lê e relê, tal qual uma ladainha cantada por escravas d'outro século.

A mulher é esforçada – palavra vulgar esta: “esforçada” –, acontece que é monotônica, possui uma só entonação, não enfatiza uma palavra. É como o namorado cru que, ao invés de acariciar sua pequena de forma a arrepiar-lhe a espinha, toca-lhe, como se fosse um fardo, sempre no mesmo local e da mesma maneira.

Não gargalha a preceptora. Não causa excitação. Feia não é; fanha também não, mas tem a indolência no falar e no agir próxima a daquelas adolescentes que, possuindo um aspecto deleitoso, esquecem-se do porte. Faltam-lhes coluna. Não a vertebral, mas aquela que dá sustentação à mulher que ensina. Não há tal que não possua, no mínimo, estas três características: garbo, porte e certa firmeza no trato pessoal.

Sem garbo, tem-se antes philia a eros. Sendo garbosa, mas sem postura é antes um bibelô que uma amiga. Garbosa e de porte, sem firmeza, é antes uma mentora que uma consorte.

Dada essa explicação, sentada à mesma mesa, seguia aquele arremedo feminino baforando vapores vagarosos para os (a)lunos, que cada vez mais permaneciam no escuro.

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