terça-feira, 5 de abril de 2011

Feeling Sick


Bateu a porta com força quando saiu. “Vagabundo!”, pensou. Viu-se naquele corredor fino, cumprido e com paredes extremamente irregulares, tal como um intestino. Bufando como um touro que não consegue acertar o o algoz que balança o lenço encarnado, pressionou o botão que chama o elevador. Quinze segundos.

– Amor! – uma voz bêbada vinha de dentro do apartamento mal pintado como uma casa da periferia manauara.

Ouvia a voz etilizada convocar-lhe a presença novamente ali no quarto, dentro do apartamento infecto, cheirando a privada entupida. Cada vez que essa onda sonora batia-lhe no ouvido, vinha-lhe a lembrança do que se passara no quarto. “Ele não pode ter feito isso... Ele não seria capaz de tê-lo feito...”, ela revolvia esses pensamentos como um ônibus lotado chacoalha os passageiros numa rua esburacada.

Apertou mais uma vez o botão do elevador. O painel que mostra a localização da cabine estava com defeito, de modo que a toda hora pulava do vigésimo quinto para o terceiro andar. Considerando que o prédio só tinha doze pisos, essa situação a deixava em ebulição. Sem mais paciência, metralhou o botão com dedadas incansáveis até que ouviu, de dentro do apartamento penoso como um dia de azar, a mesma voz de antes.

– Me perdoa, amor!

A voz era de uma frouxidão famigerada e de uma gravidade consternada. Não pedia o direito de falar, sabia que para isso não existia possibilidade. A manifestação oriunda daquele apartamento quase abandonado conhecia perfeitamente a sua situação. Tudo que tinha para agarrar-se sem pensar eram as súplicas, pedidos submissos e desesperados de perdão.

– Me salva, amor. Me tira daqui!

O elevador chegou. Ela abriu a porta. Entrou. Sua última vista daquela saleta foi um quadro expressionista com cores amarelas, laranjadas e vermelhas que ficava logo acima de um vaso com flores de natureza morta. A porta do elevador fechou enquanto sentia náuseas e seu estômago revirava dentro de si.

Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

excelente texto, amigo, prende o leitor, e muito bem escrito