Relativista! Conformista! Cético! Essas palavras viraram sinônimas, no inflamado debate público nacional. Um pouco de conhecimento filosófico, no entanto, ajuda a compreender que não remetem ao mesmo sentido. A última designação, ao contrário de uma condição quase anti-patriótica, como pode pensar alguém mais engajado, pode se referir a uma atitude mais racional que expelir interjeições mal justificadas. Ceticismo, antes de tudo, relaciona-se à investigação (sképsis) e, para refinar seu entendimento, algumas distinções são necessárias.
Primeira distinção: ser cético não quer dizer ficar em cima do muro. Quer dizer investigar, antes de saber que lugar tomar em relação ao muro, deste, daquele ou em cima. Portanto, não é dizer "Tanto este, quanto aquele lado são iguais do ponto de vista deste muro, em que me localizo", nem quer dizer que "Nada farei, em relação aos lados, porque, de cima do muro, nada me afeta". O cético suspende o juízo, logo não toma lado (seja esquerda, direita, acima ou abaixo). O cético age, porque investiga, logo não se conforma. Retomarei essa diferenciação no final.
Uma segunda distinção é ainda necessária. Isso porque, do ponto de vista histórico e conceitual, há, ao menos, dois céticos possíveis. Refiro-me aos acadêmicos e aos pirrônicos.